De repente ontem, dia 12 do 12, eu fiz 25 anos. E sentado na ponta de uma mesa com 15 cadeiras me permiti ficar em silêncio olhando alguns fiéis amigos bebendo boa bebida, comendo boa comida, mostrando dentes jovens, brancos, cabelos cheios de vida e olhos ainda brilhantes e vivos. A juventude é um orgasmo duradouro que a gente, insaciáveis ingratos, tenta esticar ainda mais. A mesa comprida, esticada à minha frente e eu, só eu, sentado na ponta olhando tudo, ouvindo os talheres batendo na porcelana dos pratos, os copos surrando o tampo de madeira. Era a vida acontecendo ali, naquele momento.
Dificilmente me permito olhar a vida acontecer sem interferir. Mas nesses dias mágicos, místicos, vale a pena. Existe um dia no ano, e no meu caso foi ontem, em que você recebe votos de gente que diz para o cosmos que você merece ser feliz. Gente que joga sentimentos no ar e deseja que você tenha sucesso, muitos amigos, amor, dinheiro, felicidades mil e muitas outras coisas boas. Metade são desejos vazios que não têm poder algum. A outra metade se divide entre gente que gosta de você e gente que realmente tem sentimentos relevantes por você. Juntando esses dois grupos dá pra angariar uma carga positiva considerável.
Foi o que eu fiz.
Mas numa mesa daquela, com gente daquele calibre, o que paira no ar vai além de boas energias e desejos honestos. Ao contrário da festa impessoal que fiz ano passado (90 pessoas bêbadas, eufóricas e entorpecidas dando trabalho), neste ano escolhi o melhor lugar para levar as melhores pessoas. Chamei só os que vibram comigo, como eu, e os que realmente se importam. Sentado na ponta da mesa levantando meu copo e agradecendo a presença de todos, desejando para mim e para eles o dobro do que desejaram para o meu aniversário, senti os fios que ligam o tempo à realidade se afrouxarem e naquele momento, mesmo que nenhum deles tenha percebido, eu vi o mundo parar.
Não existe nada que cause mais dobras temporais do que um brinde sincero, com sentimentos na ponta de taças, copos, garrafas, latas e gestos. Sons de vidro batendo, sorrisos, corações acelerados e felicidade verdadeira descendo pela garganta de todos com bolhas de gás carbônico e açúcar industrializado misturado com frutas, álcool e água congelada. A vida se estica quando você troca a euforia e a loucura por um ambiente aconchegante e intimista, onde as conversas são audíveis, onde os rostos se parecem com o que eles realmente são, sem maquiagens em demasia, sem penteados falsos, sem gente fora de controle. Sentado ao lado da minha mulher, dos meus sócios, de grandes faces e de grandes pessoas o mundo parece uma eterna festa da realeza.
Olhando todo mundo ali absorvi mais coisas positivas do que em qualquer outra situação. É nobre estar em um lugar onde pessoas se sentam à sua mesa simplesmente pelo prazer de atenderem a um convite seu. Faz bem para a alma, para o espírito e acalma tudo o que é ruim. Não há espaço para negatividade em uma mesa onde se come bem, onde se bebe bem, onde se ri, onde se está cercado de pessoas bem intencionadas e onde, ao fazer uma breve análise da alma de cada um, temos certeza de que estamos jovens ainda. Mais do que à idade, a juventude está ligada a estados de espírito e, sendo assim, quanto mais mesas de jantares de aniversário eu colecionar, mais jovem me tornarei.
Um brinde a todos nós!