Hoje tomei uma decisão importante. Vindo para o trabalho, ouvi duas mulheres no metrô conversando sobre a nova série da Globo, a pornográfica releitura de “Gabriela”. Foi exatamente no intervalo de duas músicas, aqueles segundos de silêncio que o mundo lança seus sons por dentro dos fones para nos fazer perceber que ainda existe vida fora do nosso mundinho musical e particular. Ga-bri-e-la. A palavra é boa, tem vários sons que dão prazer à língua, fazem bagunça na boca e começa e termina com notas abertas, alegres e expansivas. Ótima palavra, ótimo nome.
Pensei sobre isso durante um tempo e, logo depois, decidi o que, até agora, parece imutável para a eternidade: se for menina, vai se chamar Gabriela! Não que eu esteja pretendendo ter filhos agora, mas é importante ter uma referência para o dia em que isso se concretizar. Não sei se terei crianças pela casa, nem sei se, caso eu tenha, serão filhos biológicos ou adotivos, se serão meus mesmo ou enteados. Não sei, mas sei que se eu puder escolher e se for menina, será esse o nome. É um bom nome! Como desde que nasci já sabia que se o próximo Braz no mundo fosse homem se chamaria André, sempre me perguntei o que escolheria para o caso de nascer uma dama, no lugar de um varão.
Tenho excelentes referências de mulheres que se chamam assim. Excelentes mesmo! Primeiro porque é um nome de origem italiana e as mulheres vindas do país da bota são, por natureza, intensas, falantes, alegres e fortes. Quem é que não gosta de mulher decidida, engraçada e, às vezes, até meio brava? São gente que ocupa a mente das pessoas com facilidade e escalam de cargo em cargo com tranquilidade e destreza sem precisarem de nada além da própria personalidade. São gente honesta, meio desmiolada, de olhares intensos e de histórias pra contar. Nunca conheci uma Gabriela que não tivesse um caso hilário ou surpreendente para me impressionar.
Só namoradas, com esse nome, tive duas. A Tombolato é bem dessas que são expansivas e enchem o ambiente em que está. É daquelas moças que dão risada de gente caindo na rua, de piadas sem sentido, de coincidências sem valor e que tem o coração do tamanho do mundo. Estava sempre disposta a uma aventura nova, correr perigos possíveis e aprender um pouco mais. Um pouco depois dela veio a Rinaldi, que era completamente diferente e parecida ao mesmo tempo. Essa me impressionava pelo número de coisas que sabia, de projetos que iniciava e de conhecimentos que adquiria em qualquer lugar. Sabia tudo de música, arte, cinema, teatro e vivia desenhando pra alguém, escrevendo pra algum lugar, tocando em alguma banda de amigo, viajando pra algum lugar maluco e sempre tinha mil histórias pra contar. Metade devia ser mentira, não é possível, mas a parcela verdadeira valia muito a pena.
Ainda no caminho da arte, uma vez, lendo a Revista Void (uma das coisas mais legais que o Brasil já produziu no quintal de casa) me deparei com uma foto do skatista Tony Alva e seu olhar honesto me fitando sem escrúpulos. A foto era tão incrível que fiquei alucinado pela pessoa que havia feito aquele retrato. Foi aí que descobri, lá de Porto Alegre, a incrível Gabriela Mo. Fotógrafa filha de fotógrafo e dotada de um talento excepcional, a Mo é o tipo de gente que eu curto acompanhar só pra aprender um pouco mais, pra ter ideias e me inspirar. É o tipo de mulher que, mais cedo ou mais tarde, vai fazer algo muito grande e seu nome não vai sumir nunca mais.
Tem a Guerra. Essa veio casada com o sobrenome. Bravinha por natureza, da até dó do Renato, meu amigo e namorado dela. Essa é um tipo diferente de Gabriela: é das que faz piada de humor negro. Desde que me conheceu pessoalmente nunca mais me chamou de Braz. Pra ela eu sou “índio” e fim, sem margens para discussão. É do tipo de gente que você senta para perguntar como está e, quando vê, já se passaram 6h de conversa e mil histórias de idas e vindas da vida e de gente ao redor. É agradável estar perto dela! Dessas que falam muito tem também a Domingues, que eu até hoje, mesmo não sendo mais da família, ainda chamo de Prima. Essa também fala mais que a boca, ri alto, conta piada suja, é brava igual o diabo e nada no mundo a faz desistir das coisas que quer. E, logo-logo, vai botar mais uma pessoinha no mundo. É um dos tipos de Gabriela que eu mais gosto: as raçudas!
Também tem a Perandin, que eu conheci anos atrás e que, no meio de toda a discrição do mundo, ainda é uma legítima defensora do próprio nome. Tem uma expressão séria, é reservada, tem um olhar de desconfiança em tempo integral mas que, no primeiro minuto de conversa, se revela muito mais sonolento do que vigilante. É do tipo de gente que se mete em encrenca porque não se preocupa com as coisas e vive um dia exatamente após o outro. É um tipo raro! No extremo oposto, tem a minha priminha de 9 anos, a Ana Gabriela. Não é uma “Gabi” pura, mais ainda assim, tem o nome e as características que vêm de brinde com ele. Corre muito, quebra muitas coisas, pergunta muitas perguntas, fala muitas palavras e pensa muitos pensamentos. Além de ser a “Braz” mais nova, é uma mini-Gabriela daquelas que vai abraçar o mundo num sorriso só.
Falando em Gabrielas misturadas, tem a Maria Gabriela Leite, uma florzinha fumante (ou ex, nunca se sabe) cheia de calma e bom humor. Ela é tão Gabriela que namora com um Gabriel e, possivelmente (eu acredito muito) vai acabar casando com ele. Cheia de espiritualidade, positividade, empatia e delicadeza, a Gabi é o tipo de menina impossível de não gostar e, geralmente, isso acontece já no primeiro contato. É o tipo de pessoa do bem que está cada vez mais difícil de encontrar. Bem no caminho oposto do lado zen, tem a Ferrareis, mas que eu me reservo ao direito de chamar só de “Ferra”, porque é mais ou menos assim que as coisas acontecem ao redor dela. A menina é uma mistura de gente maluca com gente feliz e no meio desse jogo de personalidades ela ainda arranja tempo pra ser malandra, esperta além da conta e fiel… aos amigos! Tem um incrível instinto de sobrevivência, justiça e estilo. É o tipo de Gabriela que eu gosto de conhecer, mas não fico muito perto: é com elas que eu mais gosto de brigar!
Falando em malandragem, tem duas que eu conheci no mesmo dia, na mesma mesa, com o mesmo nome, inseparáveis, mas com objetivos e gênios bem diferentes. São tão diferentes que apesar do mesmo nome, uma tem um “L” a mais que a outra. Uma é a Duarte, uma baixinha cheia de vontade da vida e uma porção de nocautes e ressurreições para contabilizar num currículo de só 19 anos. Junto dela conheci a Luz, uma das minhas preferidas. Assim como o sobrenome, ela ilumina qualquer coisa ou lugar onde chega. Com um sorriso que quase não cabe na cara, chora e ri com a mesma facilidade que troca de roupa. É daquelas meninas que dá vontade de sentar e conversar sobre qualquer coisa só pela certeza de que, cedo ou tarde, tudo vai terminar em uma piada idiota e uma gargalhada infinita e estridente.
São muitas, de muitos tipos, muitas cores e muitos jeitos. Não me lembro de conhecer uma Gabriela que nunca me ensinou nada ou que nunca me agregou uma história interessante. Claro que nessa lista estão as mais próximas, mas conheço tantas outras, como a Ferigato, a Tessarolli, a Vieira Maria, a Ávila Paes ou a Pallazzini. Mas o que importa é que todas são incríveis, mesmo. Sendo assim, no trajeto do metrô até a redação, tive tempo de lembrar de todas elas, das histórias que me contaram, que viveram comigo e que me fizeram contar. Por isso, se alguém me perguntar, a resposta já está pronta. Se for menino vai ser André, se for menina, Gabriela!