São as prostitutas que a sua manicure caríssima atende. Você não sabia, nem imaginava, mas as moças são garotas de programa, sentadas na cadeira ao lado, conversando com você sobre aquela loja que está liquidando tudo pra entrar a coleção de verão e estão vendendo blusinhas a 19 reais, quando, na verdade, costumam custar 80! A sua manicure sabe de onde vem o dinheiro que paga a francesinha, a craquelada, a neon com disco ball ou a renda com strass. A dona do salão, claro, também sabe. Algumas clientes também já sacaram, mas tudo bem, não fazer julgamentos é a melhor maneira de gostar de alguém logo de cara.
São os bicheiros que tomam cerveja na padaria onde você toma café. E eles são bicheiros mesmo, daqueles que tiveram o último emprego formal aos 30 anos de idade, descarregando caminhão de batata de madrugada, na Ceagesp e depois descobriram que o dinheiro não está nas plantinhas, mas nos bichinhos. No coelho, no macaco, no burro. Quem diria, o burro é um dos que mais rende! O chapeiro sabe que são bicheiros. A balconista sabe que são bicheiros. O dono da padoca também. Os três fazem jogos semanais! Todo mundo fazendo a “fézinha”, esperando o dia da fartura.
São aquelas adolescentes que espiam a sua janela com binóculos durante a noite e assistem às suas transas com os carinhas que você fica de vez em quando. Nascidas em berço religioso extremista que vivem da curiosidade do mundo e presas atrás de uma porção de valores retorcidos. Elas queriam ser você, viver como você, gemer como você, gozar como você, ter a liberdade que você tem. Elas sabem que estão fazendo algo que “Deus” não aprova. As mães sabem disso. Os seus vizinhos sabem delas ali. Os caras que moram no apartamento do lado ganham uns trocados só pra ligarem pra elas e avisar que você chegou. Você não sabe, mas é a celebridade máxima dessas meninas!
São os traficantes de lança perfume que moram no apartamento de cima. Você divide o elevador, deseja bom dia, boa tarde, boa noite, sabe que os rapazes moram sozinhos, que pagam o condomínio em dia e que o trabalho deles é que banca as festas, as roupas e a faculdade. Porque naquela idade era óbvio que estavam na faculdade! As garrafas de benzina, os sacos de estopa a granel, os vasilhames coloridos comprados na 25 de Março e a atividade intensa durante a noite, com ventiladores ligados, janelas abertas e luzes apagadas não incomodam ninguém, pra que se preocupar? Mas o porteiro sabe o que eles fazem. O zelador também sabe. O síndico, inclusive, comprou litros e litros pro aniversário da sobrinha que fez 18 anos, mês passado.
São as senhorinhas que vendem maconha nos bingos da igreja. Elas fazem vista grossa, mas também precisam de dinheiro assim como eu e você. Os netinhos plantam, cultivam e elas têm um público confiável e fiel. Senhores e senhoras de idade interessados em alguma coisa que alivie as dores nas pernas, as tremedeiras de frio e a ansiedade pela hora da missa do dia seguinte. O padre já está sabendo, mas finge que é para o bem, que Deus inventou a santa erva e, por isso, não deve intervir na obra divina. Os policiais do bairro também sabem, mas cobram a caixinha e deixam a galera da melhor idade relaxar em paz. É a biqueira mais movimentada da cidade e, mesmo assim, nenhum nóia aparece por lá.
São os vendedores de gabarito que ficam conversando perto do bebedouro no seu andar, na faculdade. Aqueles caras estranhos que deviam ter se formado há uns 20 anos, mas continuam indo pra faculdade, ao menos sempre que tem prova, sempre de mochila nas costas, com olhares evasivos e sempre encostados em algum lugar. Você passa, pede licença, bebe água, sai e eles ficam olhando, esperando um sinal, querendo mesmo saber se você está com sede ou está perigando pegar mais uma DP. Os professores sabem quem eles são. Os representantes de classe também. O pessoal do Centro Acadêmico, inclusive, financia alguns deles. Todo mundo é “de casa” ali naquele bebedouro do seu andar.
São essas pessoas que você precisa conhecer, conversar e tentar aprender um pouco mais sobre a vida. Mas não, você continua com os mesmos passeios, os mesmos barzinhos caretas, a mesma vidinha empacotada enquanto o mundão lá fora está cheio de gente louca pra conhecer você. São as mocinhas de boa família que se acham sabidas demais, que fazem faculdade ou que estão comprando o primeiro carro, que eles estão loucos para conversar. Quer uma dica? Comece pelas prostitutas que fazem a unha com você… elas têm muito a ensinar.