E de vez em quando, mesmo que seja uma das perguntas que mais me fazem, eu gosto de contar pros outros algumas verdades mentirosas sobre como é que rola o meu processo criativo. Tem gente que acha que existe alguma mágica ou alguma manha e quando me dizem isso eu fico até feliz. Faz parecer que o que eu escrevo é realmente muito bom, mas honestamente, acho que dos 200 e poucos textos desse blog eu não salvaria nem metade numa Arca de Noé literária. Metade e olhe lá! Mas não, infelizmente não existe uma manha. Se houvesse eu usaria todo dia, principalmente naqueles em que eu não escrevo por pura falta de ideias. Eu quero ter ideias, mas às vezes elas não querem ficar comigo.
Geralmente o que acontece é eu me lembrar de algum acontecimento simples do meu dia, ou de alguns dias anteriores, e tirar disso uma cena ou mesmo uma frase que eu possa usar. Penso coisas enquanto estou jantando com a minha namorada, enquanto estou suando dentro do ônibus matinal e principalmente quando estou tomando banho antes de começar o dia. São ideias aleatórias e desconexas, vêm como um lampejo, um sopro, e se eu não as agarro com força, beirando a brutalidade, elas saem voando para se deitarem na cabeça de outro escritor. Escritor, sim, porque durante muito tempo me neguei a aceitar esse rótulo, mas se o jogador é quem joga, o amolador é quem amola e o educador é quem educa, eu que escrevo só posso ser chamado escritor. Está bom para mim assim.
Mas voltando, além desses flashes, ou dessas lembranças de acontecimentos diários, uma das melhores maneiras de forçar uma ideia a sair é botar uma música pra ela. Ideias são criaturas vaidosas, não se dão para qualquer um ou qualquer coisa. Eu boto uma música bonita, faço com que sintam uma vontade incontrolável de dançar e quando estão aqui fora, rebolando seus quadris fartos em vestidos floridos de pano vagabundo eu as pego. Não tem como ser diferente. Não existe manha, quase todo mundo que escreve faz isso. E outra, você já ouviu a música chamada “Home and Consonance” de um grupo chamado “Tropics”? É impossível não ter uma ideia, papo sério.
Também me inspiro nas pessoas. Gente bonita que eu vejo por aí fazendo coisas bonitas por aí em ambientes bonitos por aí. Esse é o tipo de inspiração menos recorrente, até porque ultimamente tenho visto muito sempre as mesmas pessoas. Escrevia mais baseado nisso quando era solteiro e tinha – quase por obrigação – que ficar olhando pra todas as moças do metrô, todas as moças da rua, todas as moças do mundo. Hoje não, hoje eu geralmente uso esse recurso pra escrever textos sobre homens. Não tenho muitos referenciais masculinos no meu dia a dia e por isso prefiro escolher estranhos: é menos ruim inventar verdades sobre quem você não conhece.
Mas se inspiração fosse sinônimo de boa escrita tinha muita gente assinando best-sellers a torto e a direito. Mas não tem, né. São quase sempre os mesmos figurões e tal. Então, por isso, e por que ter ideias brilhantes são só metade do caminho, semana que vem vou começar e terminar um curso de verão para criação de narradores. De segunda-feira a quinta-feira. Cinco dias de pura criação abstrata. Quero aprender a escrever mais e melhor. Quero saber fazer mais sentimentos com cada vez menos letras. Quero fazer cada vez mais filhos com menos meses. Quero fazer cada vez mais vidas com menos mundos. Aprender a escrever melhor vai me tornar alguém melhor, já que nada da minha existência se separa da minha escrita. Portanto preparem-se: pode ser que tudo o que eu escrevi nesse texto esteja diferente na sexta-feira que vem!