Arquivo mensal: novembro 2012

Hoje Elza não dorme!

Hoje não, nem tem como. Ela vai se deitar no escuro, na cama que sempre acolheu seu sono em todas as outras noites até hoje, mas não vai conseguir dormir. Não é café, não é bebida, não é filme, não é nada que se controle. Essa noite não tem sono na cama dela, mas não deveria mesmo ter coisa do tipo. É o corpo de Elza que quer despertar quando deveria estar se despedindo. Hoje não tem sono para ela.

Do lado de fora, na cidade escura do meio da semana, o vento esfria a vida e faz a rua tremer, mas dentro do quarto é um calor sem fim. A testa suada não encontra posição no travesseiro já morno de tanta fricção. Os cabelos presos grudando no rosto, na nuca, se espalhando pela boca, olhos, nariz e incomodando mais do que o de costume. A respiração é complicada, o ar é quente e o mundo vai se acabar. Ela se sente coberta por mil camadas de pano quando, na verdade, está vestida de pele e tesão, apenas.

É como um feitiço, um veneno, uma praga, um trabalho de gente ruim. O corpo não se aguenta, a pele se estica, os dedos se contraem e os músculos vão endurecendo. Cio, é o nome. É um desejo de comer o que não se come, de ter o que não se compra. A noite vai se criando e a escuridão toma forma na cólera de Elza. De repente tudo está se movendo, como se rodasse, como se estivesse descendo pelo ralo, sumindo, indo embora, sendo chupada. Tudo o que Elza queria era ser chupada até sumir.

Cada segundo de olhos fechados, de escuridão forçada, era preenchido com figuras, cores, sons, espetáculos de carne e osso dos quais ela jamais poderia fugir. A mente de uma mulher tomada pelo desejo não mede esforços, nem tamanhos, nem perigos. Metade da imaginação de Elza poderia facilmente levá-la direto para o caminho da morte, mas ela não se importava. Daria a vida por um minuto de realidade dentro de suas viagens.

Desenhava fantasias tão intensas e bizarras que chegava a misturar o que é real com cores, sons, formas e figuras sem nome, sem massa, só existentes dentro do sonho de quem está fora de si. Homens e coisas. Animais e cores. Objetos e formas. Cenários e sons. Odores e sabores. Tudo misturado em uma miscelânea de perversões que jamais, em nenhum momento de toda a história da raça humana, nenhuma mulher ousaria revelar.

Elza queria fazer sexo com deuses, com figuras inimagináveis, com homens que não nasceram ou que nunca poderão morrer. Ela desejava dores atrozes, humilhações impensáveis, prazeres primitivos e animalescos, enquanto delirava desenhando orgasmos que seu corpo jamais produzirá. Vinte homens, vinte mulheres, vinte dias e nenhum momento de paz. Ela queria tudo, de uma vez, no mais tardar do agora, do imediato, do já e gritava por isso com o máximo da força que seu corpo tinha.

Mas não era possível. O pingo de sanidade que lhe restava mostrava que tudo era ficção, que taras e fantasias são só desejos impossíveis, são criações que tomam forma em um mundo que não é o nosso. Respirava fundo, retorcia o corpo ao redor do cobertor e deixava que o tecido lhe service de parceiro. Depois ficava imóvel por algum tempo, curtindo um mini-orgasmo que não se aproximava em nada dos desejos que tinham tomado seu sono e, imediatamente, voltava a se esfregar em panos já encharcados.

Desejava ter vinte dedos em cada mão, no mínimo mais umas quatro vaginas, uns outros muitos buracos novos e inventados e, acima de tudo, desejava que todos lhe dessem prazer infinito. Elza estava prestes a desmaiar em delírios sólidos e profundos quando se lembrou que gozar é morrer e que o momento imediato à euforia do orgasmo é comparado ao alívio do nascimento. Ela não queria nascer, mas desejava a morte mil vezes por segundo.

Pobre moça, desiludida num mundo onde o que sobre para as mulheres são apenas os homens, com suas limitações e suas barreiras psicológicas. Homens que pedem 15 minutos entre uma e outra. Que não passam da terceira, que não sabem se concentrar, que não sabem muita coisa. Não havia tempo para aulas, cursos e conselhos no tesão daquele quarto. Elza odiava os homens de seu mundo, mas desejava que todos eles, sem faltar nenhum, adentrassem seu quarto e a matassem um milhão de vezes. Tudo o que ela quer é morrer de sexo, como se pudesse escolher o fim perfeito.

Hoje Elza não dorme!

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Runner (Lover) Girl

Não sei, até hoje, se é religiosa, mas sei que todos os dias, religiosamente às 6h da manhã, ela entrava na sala para realizar seu ritual de purificação, ou autoflagelação, não sei. Eu a via da janela do meu apartamento, dois andares mais alta, do outro lado do quarteirão, na outra esquina. Eu a via linda como uma das moças que ilustram as capas das revistas femininas que as mulheres compram para se sentirem feias. Aquela, ali na outra janela, acho que nunca conseguiu ser outra coisa além de perfeita.

Tinha uma sala bonita, com um chão marrom que, depois de algum tempo, percebi ser de madeira, talvez aquelas de verdade, não só aquele carpete plástico que simula ripas e tábuas que nunca serão como um verdadeiro pedaço de árvore. Eu tinha um binóculo para olhá-la, um dos bons, que me permitiam perceber detalhes como que brincos estava usando, como estavam presos seus cabelos e se estava, ou não, com fones de ouvido.

Estava sempre com trajes parecidos. Um short mínimo, uma camiseta discreta, descalça e disposta. Começava com algumas posições que eu pensava ser yoga, mas não sei ao certo se era uma tentativa de quebrar os próprios braços e pernas, ou se era algo que lhe dava prazer. Depois deitava-se e fazia abdominais. Um tipo de abdominal absurdo, muito mais rápido do que eu costumava ver as pessoas fazendo no parque ou em academias. Era como uma versão linda, magra e delicada do Rocky Balboa, só que sem suar e sem levar tanto soco na cara.

Acho que passava mais de dez minutos fazendo abdominais sem descansar. Depois virava-se e encarava uma sequencia de flexões de braço que vi poucos homens fazerem com tanta dedicação. Em dias sonolentos eu sentia que durante as flexões ela empurrava o prédio todo para baixo, ao invés de usar os braços para botar o corpo para cima. Depois disso, caminhava pela casa, acho que até o banheiro ou até a cozinha, e saía de tênis. Eu contava menos de dois minutos e ela já despontava na portaria do prédio: tenho certeza de que percorria os 8 andares pelas escadas, a toda velocidade.

Pisava na calçada, olhava para cima, para o céu e não importava a temperatura ou o clima, ela corria. Saia correndo como quem foge da polícia, ou de um cachorro, ou de alguma coisa muito maior que o medo dessas duas coisas. Era uma explosão, com os cabelos voando para todos os lados, o rosto sério e os punhos fechados como quem parte para uma briga. Em dias calmos, quando a cidade resolvia silenciar por alguns segundos, eu podia ouvir seus pés apressados percorrerem o asfalto rua acima.

Uma hora e quarenta minutos, em média. Ela corria por quase duas horas a uma velocidade ridiculamente alta e chegava ao ponto de partida com a mesma intensidade, sem parecer ter diminuído o ritmo em nenhum momento. Tenho quase certeza de que se a acompanhasse, mesmo que de bicicleta, não conseguiria manter-me ao seu lado durante todo o trajeto. Era um absurdo de mulher, de ser humano, de milagre.

Balançava os cabelos compridos, da cor do chão da sala, um marrom claro de muitos tons, daqueles que os produtores de propagandas de shampoo se matam para encontrar, e entrava no prédio. Não demorava a aparecer na sala novamente. Deitava-se no chão duro, frio, imóvel por alguns minutos. Depois tirava os tênis, caminhava até a sacada e olhava a vizinhança sair para trabalhar. Dava bom dia para o Sol, sorria para as cenas cotidianas e, como se fosse o final perfeito – e bizarro – para um filme banal, levava um cigarro à boca e fumava calma.

Fumava com os melhores pulmões da cidade, com as pernas mais compridas da cidade, com o sorriso mais simpático da cidade, com os cabelos mais perfeitos da cidade, estourando todos os glóbulos novos, piorando todas as lesões, estragando todo o trabalho feito. Via a fumaça sair correndo para o lado, mostrando que o vento da manhã soprava sempre na mesma direção. Nunca entendi o prazer que ela sentia em se sacrificar por um vício tão banal, mas o fato é que nunca me pareceu errado, considerando todo o esforço que precedia aquelas sagradas tragadas.

Hoje em dia ela continua linda, com um cabelo ainda mais comprido, com um corpo ainda mais bonito, com um sorriso ainda mais largo. Só que já não corre, nem faz abdominais, nem flexões, nem yoga. Ainda fuma, ainda acordas às 6h e ainda mora no mesmo apartamento. Ainda aparenta ter 25 anos e ainda me encanta quando passa pela sala. Só que hoje em dia ela trocou todo o cansaço e o esforço por outro tipo de atividade.

Um tipo moreno e alto que aparece na sacada às 6h10, geralmente só de cueca, e fuma com ela com a mesma calma de antes. Ele não corre, não faz abdominais, não faz flexões, mas a faz sorrir! Ao invés de suar correndo por aí como uma maluca, hoje ela dorme até mais tarde, transa para queimar o que a corrida queimava e curte o mesmo vício de antes sem precisar se preocupar. Está bem do jeito que está, sem precisar estar diferente. Ela deve ser feliz assim!

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Te amo e te mato (fim)

Minha vida é como uma releitura um pouco mais triste e erudita de “Adeus Você”, dos Los Hermanos. É como se eu estivesse ouvindo você dizer que precisa que eu melhore para que a sua vida siga a diante. Como é que isso é possível? Você sempre foi tão forte, tão esperta que, se eu estiver lindo e feliz ou fodido e triste, como estou, sua vida estaria seguindo em frente da mesma maneira. Tem uma hora em que é preciso aceitar que a nossa existência não é assim, tão importante, como a gente pensava que era, só porque alguém costumava dizer.

Faz um tempão, uns quatro, cinco meses, que só toca Los Hermanos aqui em casa. Se era pra entrar numa bad trip, decidi fazer isso com os profissionais. Frases como “me diz o que é o sufoco” me entregam uma sensação de proximidade, como se eu estivesse cantando, como se eu fosse Amarante ou Camelo, rasgando os dedos em guitarras de mulher, cantando músicas sobre mulheres, sobre amores de mulheres, sobre você e essa porra dessa tua existência que não me cansa de pesar sobre os ombros.

Eu quero que você suma da minha vida, mas do jeito certo. Você sair de casa, ter me largado, ter levado tudo, até as fotos e ter mudado de telefone, de endereço, não te fez sair de lugar nenhum. Você ainda está aqui. Se penso em investir em alguma coisa, penso em viajar e só quero viajar em você. Se penso em comprar alguma coisa, quero te agradar e te agradar não lhe agrada hoje em dia. Se penso em transar com alguém, penso em você e vou pra cama com um corpo incógnito ouvindo tua voz, sendo teu amante secreto, sentindo teu perfume e tendo orgasmos falsos em uma situação que não é, em nenhum momento, o que eu quero viver.

Quero mais é que você suma de vez, que vá pra longe da minha cabeça, do meu coração e que libere meus sentimentos, antes tão intensos, para que eu possa viver de novo. Meu avô viveu até os 98 anos, minha avó foi até os 102, meus pais já estão com uns 70 e ainda correm no parque, viajam para fora e vão beber vinho. Não vou morrer cedo e, sabendo disso, não posso aceitar viver sofrendo com o teu fantasma por ai.

Te foda, te morra, te suma daqui, mas me deixe em paz. Que arranje outra pica, que se afogue em porra, que fique gorda e feia depois do vigésimo filho. Quero teu mal, quero tua desgraça, quero que você se foda de verde e amarelo pra passar um pouquinho só do que eu tenho passado todos os dias, a cada segundo, do momento que acordo até quando tento fingir que vou dormir.

Troca minha vida de “Adeus você” por uma vida de “Morena” ou “Além do que se vê”, numa existência feliz, de acordes agudos, com plateias gritando e pulando. Quero viver em “O vencedor” ou em “Paquetá”, ou até uma “Casa pré-fabricada”, só pra não viver feliz o tempo todo. Quero te comer de novo, e depois de comer pra valer, te engolir os dedos, os olhos e os cabelos, pra viver dentro de mim tudo o que eu mais amo. Hoje é o último dia disso tudo. Acabou, vou tirar férias de mim, de você, da vida e do mundo. Dona Cida vai cuidar de tudo por aqui, então não faz diferença.

Hoje decidi que, se te amo, te mato, pra fazer nascer um outro amor, quem sabe, um dia. Só assim pra viver de novo.

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Te amo e te mato (meio)

De repente a casa está linda, do jeitinho como se diz que deve ser uma casa saudável. O chão de madeira tem cor e brilho de madeira, as paredes estão limpas, lisas e fortes. A cozinha está mobiliada e tem frutas na fruteira, pão no armário e ovos na geladeira. Tem coisa pra caralho na geladeira, na verdade. Tenho uma empregada! É, precisei de alguém para cuidar dos assuntos que não me dizem respeito, como a minha vida, por exemplo. Dona Cida cuida de mim como uma mãe, comprando as coisas no sacolão toda terça-feira, lava minhas roupas, recolhe as toalhas jogadas, arruma os móveis nos lugares onde eles merecem ficar e limpa tudo.

Não trabalho mais, dei sorte de aqueles alugueis todos terem dado certo. Estou vivendo de renda, pagando as contas e vivendo sem luxo, mas sem lixo. Os cinco cômodos dessa casa nunca viram tanta organização e limpeza como agora. Não que você fosse uma mulher desleixada, mas é que a Dona Cida sabe fazer tudo de um jeito que parece que ninguém mais poderia fazer melhor. Nem você.

Em compensação, você fazia muitas coisas que a minha fiel empregada jamais fará. Você me fazia feliz, por exemplo, de um jeito puro e calmo, como se fosse aquela calma das músicas felizes dos Los Hermanos. Também me trazia aquela euforia que dá vontade de dançar, de rir, de gargalhar e depois de tirar a roupa, deitar na grama e transar pra gozar uma vez só, sem extravagância, sem cinematografismos, sem putaria. Só uma trepada gostosa, com muito corpo, muita saliva, muita coisa escorrendo e pouca invenção. Nunca vou poder sentir essas coisas sem você aqui.

A questão não é nem o fato de não poder comer a Dona Cida, que é casada, já passou dos 50 há muitos anos e não tem a menor vontade de ter relações comigo, assim como eu com ela. O caso é que, depois de você, mesmo que eu conheça mil outras garotas, nenhuma vai me parecer muito mulher. É que depois dessa fábula que a gente viveu, ninguém parece muito real, de carne e osso, com sentimentos sinceros e firmes. Se eu trepo com alguém, fico pensando no que foi que a empregada preparou pro jantar, o que é que vai passar no Telecine Premium amanhã às 22 horas, como é que está o problema do vazamento do banheiro do apartamento da Rua das Margaridas, que a imobiliária me ligou pra avisar. Fingi um orgasmo, esses dias, e não foi nenhum pouco estranho.

As mulheres pensam que só elas fingem orgasmo, mas eu quero saber qual é a moça que tem habilidade suficiente pra saber, no escuro, se o cara gozou ou se é só a lubrificação da camisinha que está ali pendurada. Homem também finge, lógico que finge. Eu não sabia, juro que não. Mas depois de você fiquei profissional. Coitadas, as meninas não têm culpa que você me largou, que eu não consegui superar e que, por mais que façam anal giratório com inversão de posição oblíqua, eu não vou sentir nada. Deixa elas irem pra casa em paz, tranquilas, talvez satisfeitas e me deixarem com a minha frustração de ter de viver uma vida que não tem mais graça.

Tenho ódio de você em momentos como esse. Penso que o mundo estaria de um formato diferente se nada disso tivesse acontecido. Me imagino como o pior cara do mundo, mesmo tendo a barba feita, um corpo ok, uma conta bancária segura e uma casa confortável. O sentimento é mesmo uma máscara de pregos. Você sente uma coisa que, na verdade, te fere até o talo, pra depois sumir e você ter de curar as cicatrizes sozinho, na raça. Te odeio por esse sofrimento, pela coragem de largar uma vida planejada e perfeita, por me deixar sem pensar que eu poderia morrer, perder o ar, perder as pernas e ficar só o pó sem você.

São essas contradições, tipo te amar e te matar, no mesmo segundo, que têm me ocupado a cabeça todos os dias.

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Te amo e te mato (começo)

Desde que o barco virou, que o destino se pintou de outra cor, tudo que parecia amor se transformou em lembranças incômodas, cinzas e marrons, amontoadas no meio de um monte de revistas velhas, livros que ninguém leu, xícaras que ninguém lavou e cigarros que ninguém vai fumar nunca mais. Veio uma avalanche de pó, ácaros, teias de aranha e folhas secas, numa onda incontrolável, assim que abri a porta do meu peito para ver o que é que tinha dentro. É o fim da espera pelo fim, e dói.

De repente uma paz de Los Hermanos, daquelas lentas, silenciosas e extremamente tristes, tomou conta da casa, das gavetas de talheres, dos armários vazios e de todos os outros ambientes que costumavam assegurar a nossa vida juntos. Estar casado é foda quando você percebe que se separar é permitido e comum. Nostalgia, tristeza e silêncio, daqueles tipos de silêncio que o povo diz que grita, que berra pelos corredores. Eu estava berrando pelos corredores, sem ouvir porra de silêncio algum.

Entrar em casa sozinho foi como ter certeza de que a vida já se esgotou, que não tem mais nada pra depois, que já rolou tudo que tinha que rolar, que agora não tem mais surpresa, nem aprendizado, nem entrega. Chegar sozinho foi como partir em direção ao exato lugar onde eu acabava de chegar, como se fosse um círculo de partidas tristes e chegadas infelizes. Tomei cuidado para não morrer no batente da porta da sala, afinal, morrer é sempre uma merda, seja qual lá qual for a situação.

Tem papel de parede pra trocar, o piso precisa de reparos, a escada está rangendo, faltam alguns móveis, falta limpar o jardim dos fundos e tudo mais que se diz e que é necessário em uma casa de gente normal. Eu nem sei se sou gente, que dirá normal. Hoje é o grande dia, o dia do recomeço, do zero, o marco zero da porra toda, da vida que eu ainda tenho que viver porque se matar dá inferno e eu tenho um puta medo do capeta. Hoje é o dia em que eu, um homem formado, crescido, terei de me libertar da minha infância sentimental e decidir fazer as coisas acontecerem. Tudo isso, sem você.

Me convenci quarenta vezes de que não era necessário te ter por perto, mas é aquela minha velha mania de te querer e te apagar com a mesma fluidez. Eu caminho sem saber por onde começar enquanto me lembro de quantas vezes a gente trepou em cada um desses cômodos. Penso a cada segundo que o seu sorriso ainda me faz sorrir, mesmo que em pensamento, que tudo isso aqui não é meu, é nosso e, só por isso, eu deveria deixar como está, pra esperar você dizer como é que acha que dá pra ficar, pra eu não mudar nada que você não queira que eu mude.

No segundo seguinte percebo que sou completamente dependente da tua presença e, por isso mesmo, encarno o assassino de amores e amaldiçoo teu nome, boto pra foder nas paredes todas, arrancando as cores, sujando todo o chão sem me importar, porque você não está mais aqui. Você está morta, mesmo que ainda esteja viva. Vai dar certo, mesmo sem a sua opinião, mesmo sem o seu bom gosto, mesmo sem o seu bom humor. Vai dar certo porque eu quero que você suma pra eu te amar do jeito que eu quiser amar.

Tenho vivido assim, te matando e te amando no mesmo segundo, todos os segundos da minha vida.

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