Um vídeo com os segundinhos mais preciosos dessa vida. Tenho pensado muito nisso, em segredo, nas últimas semanas. Várias vezes me peguei viajando, pensando em cores e paisagens, perdido em ideias por muito tempo, até ser cortado pela voz da minha namorada com a pergunta de sempre: “o que foi?” e eu sorrio e digo que não é nada, que estava só pensando. Não é nada mesmo, mas vai ser. É um projeto daqueles que a gente começa sem saber como fazer, sem ter o conhecimento, nem a estrutura, mas mesmo assim, seguimos em frente.
Nos últimos 10 meses tenho sentido um movimento natural e involuntário ao meu redor, envolvendo a minha vida e a vida de terceiros. Olhando para trás, para o segundo semestre de 2011 e o primeiro de 2012, nenhuma vida poderia ter sido mais incrível do que a nossa. Nossa, minha e dos meus amigos, os melhores que se pode ter. E digo sem abrir mão de nenhuma briga, de nenhum episódio de falsidade, sem apagar nenhuma memória de como a gente brigou, discordou, se traiu, se matou, chorou e se doeu junto. Mas somos pessoas, somos ruins e bons por natureza, na medida certa, na hora certa. A gente erra, acontece.
Mas amigos são amigos e eu sinto falta dos meus. E eles sentem falta dos deles também. Eramos tão grandes, tanta gente, tanto telefone pra lembrar, tanto nome para colocar na lista, que as vezes ficava difícil ser amigo de verdade, fazer parte da vida, entender os sentimentos, contar e ouvir segredos, dar o ombro a quem precisa. Mas a gente estava junto e isso bastava, ao menos para mim. Quantos casais a gente não formou e destruiu, quantas viagens a gente não planejou e esqueceu de tirar do papel, quantas outras a gente nem planejou e já foi vivendo aos trancos e barrancos. Os lugares que a gente viu ninguém mais vai ver como nós.
Até pensei em citar os nomes de todos, mas eu ia acabar esquecendo de muitos, então me reservo ao direito de só falar dos que me ocorreram agora e de alguns líderes. Sim, líderes, porque toda turma tem um chefe, um cara que decide, que responde a pergunta “pra onde a gente vai?” e não adianta viver de ilusão e dizer que não era assim, todo grupo tem um líder. A gente tinha vários! A gente, o nosso grupo, a nossa bagunça mal organizada, se é que havia alguma organização, tinha muitos líderes. E eu sinto falta desses, e dos outros, os que não se impunham, mas também não ficavam omissos, que eram todo o resto. Eu sinto falta dos rostos, das histórias, dos cheiros e das vozes de Natálias, de Guilhermes, Fês, masculinos e femininas, de Bruno, de Henrique, de Vicentes e Vinícius, plurais ou singulares, de Kauês, de Karens, de Karlas, e todos os outros Ks que por ventura existiram. De Juliana Rainha, eterna “dona do rolê”, de gente que não aparece mais, como Luiz, como Jamile, como Mameli, que nunca mais volta.
A gente existiu como grupos que existem fadados a acabar e eu sempre soube. Todo mundo sempre soube. A gente dizia “olha o tamanho desse rolê. Isso não vai durar”, e durou o que deu. O que a gente aguentou. E aí depois uns sumiram, outros casaram, outros se foderam, outros fugiram, e outros vieram para limpar a bagunça que a gente deixou pra trás. Separou tudo, rejuntou tudo e nessa parede de azulejos de cores mil nunca mais vai ter simetria. Eu acho. Nunca vi um grupo se juntar, se reerguer, porque as vidas seguem, florescem e mudam, e aí o encaixe já não rola mais.
Por isso, assim como fiz alguns anos atrás, quando escrevi “A incrível história de todos nós” – num surto de uma saudade incontrolável de Mário, Ruivo, Hola, Marcela, Juh e Fê – uma música que nasceu já contando o que não existia mais, queria uma maneira de guardar no infinito as memórias das pessoas que viveram esses 12 meses das mais absurdas fábulas que uma juventude pode viver. Assim como o projeto do livro dos fumantes, que muitos – pra não dizer quase todos – participaram, quero poder usar a carinha de vocês mais uma vez. Só que agora não vai ser só para mim, vai ser por e para todos nós. Quero prender alguns segundos de nós, sem fala, sem pose, sem filtro, só o real, num vídeo com cara de máquina do tempo.
Um vídeo, uma música, as pessoas certas nos lugares de sempre, no Poli de sempre, no Espeto de sempre, ou no que restou da memória dele, nas casas de sempre, nos carros de sempre, com os mesmos sorrisos, os mesmos violões e as mesmas vontades. A gente não ficou tão diferente assim, vai? Acho que o que acontece é que a euforia simplesmente acabou, as drogas já não são novidades, as bebidas já não impressionam e as festas já não estão lotadas de “nós”, e sim de “eles”, outras galeras, outros amigos, outros rolês. Então, só pra lembrar do que já não existe mais, hoje, oficialmente, eu convoco todo mundo (e vocês sabem BEM quem é e quem não é) pra me emprestar uns segundos da vida. Eu vou ser, literalmente, eternamente grato!