As paredes com marcas de mãos sujas, o chão grudento e encardido, mesmo nas partes onde havia carpete no lugar de piso. Os copos de plástico jogados pelo jardim e pela sacada, garrafas boiando na piscina e pedaços de papel impossíveis jogados por todos os cantos. Tinham rasgado a cortininha da janela da cozinha e uma das cadeiras estava só com três pernas. A quarta, pelo estado pontiagudo da madeira, tinha sido arrancada com violência. Na árvore, quase como uma cena de filme adolescente americano, uns dez rolos de papel higiênico se cruzavam e enrolavam nas folhas. Eu não fazia a menor ideia de como faria para limpar aquilo, nem de onde tinha saído tanto papel. Será que as pessoas levam rolos de papel nas bolsas e mochilas quando vão para alguma festa, só para o caso de ter uma árvore dando sopa por perto?
A sala estava fedendo a vinho azedo. O tapete estava manchado de amarelo na ponta e, pelo cheiro, estava mais para vômito do que para bebida. O sofá estava ligeiramente deslocado do eixo e uma porção de copos e garrafinhas de vidro ocupavam os móveis, a estante, o entorno da televisão e uma parte do chão. O lavabo de baixo tinha vômito pra todo lado. Alguém passou bastante dos limites e conseguiu vomitar próximo ao teto ao redor do batente da porta, pelo lado de dentro. Se não fosse minha casa eu daria parabéns pela façanha. A pia estava tomada por uma pasta cor de salmão, seca, fosca e fedorenta. A privada não estava muito diferente e o chão de piso branco parecia ter sido frequentado por alguém carregando um pincel de tinta preta pingando sem parar. Como as pessoas conseguem sujar tanto os sapatos em uma festa?
Subindo as escadas os pés disputavam espaços nos degraus com copos e garrafas. No topo havia um frasco de perfume vazio, aquilo me perturbou um pouco, mesmo sem saber o motivo. O corredor repetia o roteiro de garrafas, frascos, copos, latas, coisas que sujam, mãos pretas nas paredes e líquidos sem identidade absorvidos e espalhados por todos os lados. O quarto dos meus pais não abriu quando forcei a maçaneta: bom sinal. Achei que nem estando trancado ele seria poupado. O banheiro do corredor de cima estava um pouco melhor que o de baixo. Estava sujo, bagunçado e a porta de plástico duro do box estava com uma rachadura enorme, mas não fedia a vômito. A tampa da privada estava torta e o cesto de lixo estava povoado por uma montanha de papéis, além de umas três ou quatro camisinhas. Sexo no banheiro da festa, que original. Uma das camisinhas no lixo era vermelha, estava amarrada na boca e eu fiquei pensando: quem, hoje em dia, ainda se preocupa em dar o nó para a camisinha não vazar no lixo? E quem é que comprava camisinha com sabor? Afinal, ainda tinha gente que chupava os outros com camisinha?
No final do corredor meu quarto estava do jeito que eu deixei quando acordei. A cama meio bagunçada, as persianas fechadas desenhando listras perfeitas no chão e os objetos mais ou menos no lugar. Meu quarto se salvou da destruição em massa que o resto da casa enfrentou na noite anterior. Saiu quase ileso, na verdade. O jardim, com um pouco de música, um bom café da manhã e disposição eu conseguiria limpar em umas três horas. A cozinha, em um pouco menos de tempo. A sala e o banheiro, com dedicação, não levariam nem sequer uma hora. Recolher os copos e garrafas levaria uns trinta minutos, no máximo, e as tapeçarias e coisas quebradas eram facilmente laváveis na lavandeira da esquina ou trocáveis, sem grandes gastos. Eu conseguiria arrumar a casa inteira com uma dose extra de força de vontade, mas não fazia a menor ideia de onde eu ia tirar coragem de lavar o cheiro do seu perfume que ficou impregnado no meu travesseiro. Essa questão eu ainda não resolvi.