Leia Caio Fernando Abreu

Logo que surgiu um sopro de chance de voltar para São Paulo, de voltar a morar e habitar aquela loucura, tratei de caçar meu livro – inacabado – de crônicas do Caio Fernando Abreu. E digo “morar” porque quando se trabalha em um lugar como aquele, dá-se o sangue até o talo, ou pede-se a dispensa. Não existe um ser que trabalhe em São Paulo sem passar mais tempo na labuta do que em casa. Sendo assim, mora-se no trabalho e visita-se o lar.

E o livro do Caio F. Abreu vem como a cereja do bolo no meio de todas as possibilidades que esse retorno anuncia. Eu antes odiava o cara, mas odiava porque fui obrigado a odiar. Por causa das frases soltas no twitter, por causa da melosidade recortada maldosamente de dentro dos textos, por causa da fama estranha e por causa de toda a merda que fizeram com a obra dele. Eu era daqueles que dizia “Caio Fernando de cu é rola” e saia andando porque conversar sobre autor é como conversar sobre música, futebol, política e aborto.

Depois de um tempo percebi que odiar autores é uma puta de uma besteira. O cara tem uns dez livros publicados, sei lá quantos ensaios, não sei quantas peças de teatro e roteiros co-escritos com outras pessoas e ainda tinha saco para trabalhar em jornal diário. Tem que ser foda pra fazer tudo isso e, pensando assim, não dava mais pra continuar odiando o brother do “que seja doce!”, então mudei. No fim, depois de ouvir o aviso da Suellen de que “Caio F. Abreu não é isso que vocês estão lendo na internet” decidi me dar uma chance de gostar. E gostei.

Suellen sabia das coisas. Caio, mesmo morto pra caralho, ainda sabe. E sabe mais sobre viver em São Paulo do que qualquer outra pessoa. Por isso, quando caiu no meu colo – e caiu mesmo – a chance de voltar pra megalópole da zona, meus instintos voltaram a procurar “A vida gritando nos cantos” para me lembrar de como São Paulo era maluca nos anos 80, como ainda é maluca nos anos 2010. Tô com saudade de lá, do metrô de lá, das cores de lá, da criatividade que baba dos prédios, das janelas, das vitrines e dos copos de café. E depois da chegada do Starbucks, bota café aí…

Em tempos de estar na merda e estar no paraíso com a mesma frequência é sempre bom ler, assistir, escutar gente que sabe exatamente onde é que a gente está se metendo. Eu conheço. “Morei lá” de dezembro de 2008 até setembro último. Passei muita coisa, conheci muita rua com grafite bacana, vi muito panfleto com mensagem sacada, encontrei muito lambe-lambe colado em placa alta pra cacete e comprei livros que tinha um cheiro mais valioso do que o próprio conteúdo. Eu amo, porque não amar São Paulo é como dizer que o Rio de Janeiro é feio. E não é, apesar de tudo!

Mas se você não ama, é porque não conhece. E se você pensou “é claro que eu conheço, mas não amo mesmo assim” é porque só conhece a parte ruim. Tudo no mundo tem uma parte ruim. As pessoas lindas podem ser chatas, os filmes incríveis podem ter trilhas sonoras ruins, os discos mais legais podem ter capas horríveis, tudo tem uma parte ruim. Mas no fim, as pessoas lindas ainda são muito lindas, os filmes incríveis ainda são muito incríveis, os discos legais ainda são muito legais e São Paulo, mesmo sendo uma merda de um puteiro de gente maluca, é linda e interessante mesmo assim.

Por isso, caso você esteja indo para São Paulo, para estudar, trabalhar, morar, comer alguém, ou tomar café, recomendo de coração: leia Caio Fernando Abreu!

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